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Pelados: desleixo com afeto, caos criativo e um som que não se leva a sério (mas é coisa séria)

A banda Pelados mistura pop desleixado, emoção e escracho com muita criatividade. Conheça a trajetória do grupo na série do Portal Éder Luiz.

Pedro Silva

Pedro Silva

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Nascida entre amigos como Pelados Escrotos e transformada em Pelados pelos atuais membros Lauiz , Vicente Tassara, Helena Cruz, Theo Ceccato e Manu Julian com vontade de fazer música do jeito que dava, é uma daquelas bandas que preferem o erro sincero à perfeição vazia. Com quase dez anos de estrada, o grupo paulistano começou como Pelados Escrotos, lançou discos no SoundCloud sem nenhuma pretensão e foi crescendo em público, identidade e criatividade — mas sem perder a cara de quem tá se divertindo mesmo quando tá dizendo verdades.

“Acho que a princípio fazer uma banda, se juntar com os amigos pra fazer um som, nunca parte de uma necessidade”, contam. “Era aquele fogo na b*** de fazer todas as coisas acontecerem.”

A mudança de nome veio com o tempo — e com a vontade de não ser bloqueado pela internet.

“Mudamos no lançamento do primeiro disco ‘oficial’. Queríamos alcançar algum público sem ser cortado pelo nome. Hoje em dia acho que seria completamente f***, mas na época a gente tinha essas noias de adolescente.”

Pop desleixado com muito conceito

A Pelados se define como pop desleixado — e, se o nome soa como piada, a explicação mostra que não é tão simples assim.

“Acho que pensamos nesse termo como uma brincadeira com o slacker rock: tipo Pavement, Mac DeMarco, essa coisa meio bamba e meio tosqueira que a gente ama muito. É um jeito de se identificar e se distanciar dessa galera ao mesmo tempo.”

Na prática, o som da banda transita entre o lo-fi, o pop, o escracho e momentos bem emocionais. “Nos nossos discos, tem sempre cinco vozes diferentes se contradizendo o tempo todo.”

Entre as influências que acompanham a banda desde o começo, os Flaming Lips ocupam lugar especial.

“Tem vários discos deles que são essenciais pra gente — The Soft Bulletin, Clouds Taste Metallic, Yoshimi Battles the Pink Robots. Eles são modelo de como pensar e fazer um disco.”

DIY, gravadora e volta ao caseiro

Os dois primeiros discos nasceram no melhor estilo faça-você-mesmo. Produzidos de forma caseira, foram lançados direto no SoundCloud, acompanhando a onda de jovens artistas que passaram a lançar tudo por conta própria, sem intermediários.

“Era despretensioso. Queríamos fazer alguma coisa do jeito que dava. Foi o começo das nossas experiências, especialmente do Luiz, com gravação caseira. E isso moldou o som dos Pelados de hoje.”

Ouça os dois discos nos seguintes links:
Álbum "Com os amigos é melhor"

Álbum "THELP"

Capas dos álbuns " Com os amigos é melhor" e "THELP"

Mais tarde, o disco Sozinhos, produzido por Antonio Pinto, ofereceu estrutura e um novo desafio.

“Tínhamos uma formação diferente. No final do processo, a Helena e o Vicente entraram pra fazer o som ao vivo, e aí sacamos que tínhamos que virar uma banda de verdade.”

Ouça o disco no Soundcloud:

Álbum Sozinhos

Capa do álbum "Sozinhos"

A virada aconteceu em Foi Mal, lançado em 2022, gravado no Estúdio Orgânico — o espaço próprio da banda.

“Pode ser considerado o primeiro ou o terceiro disco dos Pelados, mas nele achamos o nosso jeitinho de fazer as coisas: meio cagado, mas com carinho.”

Escute o álbum "Foi Mal" completo abaixo:

Caos coletivo, com camadas

A Pelados não é uma banda com um compositor principal. Cada um traz suas ideias — e isso dá forma à colcha de retalhos emocional e sonora que define os álbuns.

“O Lauiz tem um jeito de compor muito dele, a Manu também. Todo mundo contribui. E isso dá uma aura caleidoscópica pros nossos discos.”

O processo de gravação é totalmente coletivo e caótico, com pitacos e camadas sendo empilhadas no estúdio.

E sobre o equilíbrio entre o emocional e o escrachado?

“São dois princípios complementares. O escrachado tem muito de sentimental — tirar sarro pra disfarçar que, no fundo, estamos falando sério. E a sinceridade tem que ser meio ridícula mesmo.”

Cena paulistana e barulho ao vivo

Com base em São Paulo, a banda viu a cena mudar após a pandemia. Muitas casas fecharam, mas novos espaços têm surgido. Um deles é o Picles, apontado pela Pelados como a melhor casa da cidade hoje, “tanto pro lado dos artistas quanto pro público”.

E se nos discos a banda é introspectiva e polida, nos shows o negócio é diferente:

“Gostamos de pecar pelo excesso ao vivo: tocar pra frente, alto, barulhento. Cresce muito em casas pequenas, com todo mundo cara a cara.”

Um show inesquecível? O do Maquinaria, em Juiz de Fora.

“No dia anterior, tínhamos tocado no teatro BNDES no Rio, clima todo sisudo. Em Juiz de Fora, foi o contrário: uma salinha apertada, banda e plateia coladas, amplificadores a centímetros do ouvido. Uma barulheira maravilhosa.”

Vem disco novo por aí

Em agosto, a Pelados anunciou mais um álbum de estúdio, impulsionado pelo single "estranho efeito" lançado dia 05/08, e já tem uma turnê engatilhada pelo Brasil, passando pelas regiões Sul, Sudeste e Nordeste. Quem quiser acompanhar, é só seguir no Instagram: @bandapelados

“Vai que passamos pela sua cidade um dia desses…”

Escute abaixo, o single lançado nessa semana:

E como apoiar a banda?

“Ouvindo nosso som por quaisquer meios possíveis — YouTube, Spotify, Bandcamp, pirataria… já ficamos imensamente gratos. Mas também vendemos camisetas, ecobags e CDs com artes feitas pela Manu, nossa vocalista e artista visual. É só colar na banquinha dos shows ou no Insta.”

Qual música ouvir primeiro?

Para quem vai conhecer a Pelados agora, a sugestão é a faixa “tenho medo de ficar pelado”, do disco Foi Mal.

“A gente só tocou ao vivo uma vez, e ela tem essa cara de experimento meio cagado, meio carinhoso, que é uma das coisas que a gente mais ama fazer.”

Escute a música abaixo:

Acompanhe a banda!

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Fique ligado para as próximas!

Nas próximas terças e quintas, o Portal Éder Luiz vai apresentar outras bandas que estão movimentando a cena independente com criatividade, liberdade e som autoral de verdade. Prepare-se para conhecer nomes como Tangolo MangosTagoreExclusive Os Cabides, Bella e o Olmo da Bruxa e muitos outros que fazem a música brasileira pulsar fora dos holofotes.

E aproveite também para ler a primeira matéria da nossa série, sobre a banda Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo", que inclusive conta com dois integrantes da Pelados (Vicente Tassara e Theo Ceccato).


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